Aquilo
já era um ritual de alguns anos na vida de Iracema, sentar-se numa cadeira
trançada e ficar a olhar o jardim. Ali lhe era servido o chá. Permanecia absorta
em pensamentos ao som de canto de pássaros no cair da tarde. Somente se
retirava próximo à hora da Ave Maria para junto de um pequeno altar, onde fazia
suas orações. Desde que Artur seu companheiro havia partido deste mundo. Desde
então perdera seu entusiasmo e brilho. Mas estar no jardim, lhe devolvia um ar
sereno, às vezes brotava um leve sorriso no canto da boca, sempre quando carinhosamente
acariciava as flores do jarro posto sobre a mesa. Parecia que em transe acariciava
a cabeleira branca do Artur.
Numa
manhã de Setembro estava na janela do quarto, como sempre fazia ao acordar,
olhar o jardim. Pela janela entrava a brisa fresca, vinda do rio que descia
solto, bem como amava ouvir a sinfonia da passarada na laranjeira. Sua empregada
de longos anos colhia hortaliças para o almoço. Ela percebeu que Iracema, acenava
as mãos na direção do pomar. Não viu ninguém na direção. Curiosa ficou a observa-la,
que após um aceno recuou da janela. Aproximou-se da janela e a chamou, para
saber se ela estava bem. Iracema veio à janela com um sorriso e disse que Artur
a estava esperando para passear. Então se deslizou sobre a cama e recostou-se
com um olhar perdido até se fechar para sempre na imagem de Artur.
Agora
todas as tardes durante a Primavera, a empregada com consentimento das duas
filhas coloca a cadeira no jardim junto da mesinha de Chá e sobre esta o mesmo jarro
com as flores que ela mais gostava, permanece ali silenciosamente em oração. É
sua foram de manter vivas as lembranças de sua amiga. Assim elas têm um
encontro marcado todos os fins de tarde, antes que ao longe o sino da capelinha
anuncie a hora da Ave Maria.
Toninho
Novembro/2015
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Numa semana curta desejo a vocês eu bom fim de semana com paz e alegria.